O Medo do Medo

Acordei em uma madrugada fria e, enquanto esperava o sono voltar, fiquei olhando para o velho ventilador de teto.

Como o meu quarto nunca fica totalmente às escuras, lá estava ele, estático, mas com sua figura imponente que refletia a luz do display do relógio digital, formando lindas figuras surreais.

Nestas ocasiões, eu costumo ficar relacionando essas figuras com coisas do cotidiano, mas hoje, ao contrário de outros dias, fiquei imaginando quem foi o designer que projetou aquele antigo, mas charmoso aparelho, com as suas pás imensas, desenhadas com detalhes na cor ouro, com o seu majestoso corpo magistralmente perfurado e o seu antigo sistema de liga/desliga  através de uma pequena cordinha com um pêndulo em sua ponta: uma puxadinha e ele liga na primeira velocidade, duas puxadinhas, a segunda e assim sucessivamente até chegar na fase de desligar (o gozado é que você nunca sabe quando vai chegar no “desligar”) e…. espere um pouco: pêndulo? Foi somente aí que notei que ele estava balançando levemente. Então perguntei a mim mesmo:

Por que aquele pêndulo estava balançando? Eis a questão!

Ninguém tinha tocado nele e não foi o vento, pois a janela estava totalmente fechada, então, por que o danado estava balançando? Estaria ocorrendo um terremoto ou seria uma “alma penada” rondando por aí?

Logo descartei a primeira hipótese e foi o suficiente para eu me “arrepiar” todo. Levantei-me, segurei-o até ficar totalmente parado, deitei-me novamente e, olhando-o, meio de lado, constatei, agora já meio no desespero, que o danado continuava a balançar.

E aí, fazer o quê? Claro, tive de me levantar e, naquela noite, não voltei mais para aquela cama…

Então, ficaram duas perguntas: o que aconteceu?  Por que eu senti medo de algo tão banal?

É sabido, e até muito comum, que tem certas pessoas com fobia (medo) de algumas situações, tais como: a claustrofobia, que é o medo de locais fechados, a agorafobia que é o medo de local público de difícil saída, e tem até o fobofobia, que é o medo intenso de ter medo, além de dezenas de outras fobias do gênero catalogadas.

A nova pergunta é: por que temos medo, ele é ruim?

Claro que não! Apesar de associado a algo ruim, o medo é essencial para nós, desde que não seja excessivo, isto é, o ideal é uma dose de medo, junto com outra de ousadia. Mas, temos de ter cuidado, pois o excesso de prudência ou medo pode ser prejudicial. Shakespeare disse certa vez: “nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de errar”.

Por outro lado, nós, os seres humanos, assim como muitas espécies de animais, sobrevivemos porque temos medo. É ele que guia o nosso instinto de sobrevivência, fazendo-nos agir ou reagir em uma ameaça real ou imaginária: “é melhor confundir um pedaço de pau com uma cobra, do que o contrário!”.

Medo do imaginário, ilusão de ótica ou qualquer outro fator, da próxima vez que eu for dormir e aquele pendulo balançar, charmoso ou não, vou botar fora aquele ventilador.

Que a paz esteja com todos.

Darci Men.

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