Clara – Prólogo

 

PRÓLOGO

Osnair apertou o gatilho uma, duas, seis vezes. Nem ouvia o som dos tiros. Só sua própria gargalhada. Estava feliz. E queria aproveitar cada instante das balas perfurando a mulher que um dia amou. O sadismo era tanto que, por um breve instante, logo depois da sétima vez que apertou o gatilho, e não sentiu o tranco, se arrependeu de não ter conseguido uma filmadora.

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Ele aponta a arma.

Cuspiu em Clara, ouvindo o estertor da garota, chutou o seu rosto, chegou perto para certificar que estava morta, fez o sinal da cruz e correu.

Virou a esquina da viela, atravessou a rua na direção da ponte (algumas tábuas colocadas por alguém do bairro, de forma improvisada e que acabou se tornando definitiva) que corta o córrego apelidado pelas crianças do bairro de “Rio Bostinha”, parou um instante, jogou na água a arma, sorrindo.

Transpirava muito, era madrugada, nem estava calor, mas o corpo dele quente, adrenado, pulsante. Não pensava em muita coisa, só em chegar no ponto de ônibus logo… Mas veio a lembrança dela, minutos antes, implorando pra não morrer, depois o corpo caindo… Sabia que ninguém viu nada e, se tivessem visto, ninguém contaria nada. “Covardes!”, disse baixo, cuspiu e continuou andando.

Depois da ponte, subiu uma escadinha, virou à esquerda e viu o ponto. Algumas pessoas esperavam o ônibus, a padaria do outro lado da rua abria, por isso, Osnair deduziu, corretamente, que eram cinco horas.

O crime que ele cometeu hoje foi bem planejado, isso se considerarmos a óbvia psicose do assassino e algum déficit intelectual do mesmo. Na verdade, o crime em si não teve muito planejamento, mas a fuga sim. Mais adiante na história, vão saber por que eu falo isso.

Ele já estava com a passagem de ônibus, comprada no Terminal Tietê para o Acre (lugar no qual ele não conhecia ninguém). Óbvio que tal passagem foi comprada com documento falso… Vendeu o carrinho que tinha, largou o emprego e juntou toda a grana que pôde. Lá, pretendia um emprego num garimpo ou em alguma plantação qualquer (viu na Globo que lá haviam várias oportunidades de emprego e, como todo bom brasileiro, acredita em tudo o que vê na emissora carioca).

De uma coisa tinha certeza, talvez por causa de sua arrogância: nunca seria encontrado.

Quer saber por que ele matou Clara?

Já vou avisando que nada tenho com isto. Não concordo com o ato dele e nem acho que os motivos dele são suficientes para se matar alguém… Principalmente alguém como Clara.

Mas, enfim, eu não sou o Osnair e, sim, apenas, um simples narrador.

Continua…

 
Imagem de: ~swingcat001

2 comentários em “Clara – Prólogo”

  1. Ah! Você vai descobrir!
    Acompanhe o blog que as outras partes vão sair!

    Visite seu blog também, textos curtos mas contundentes, parabéns!

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