Sócrates foi um grande perguntador e um dos motivos de ele ter sido julgado à morte — senão o principal — foi justamente o seu constante questionamento e críticas da atuação das autoridades de sua cidade e do tipo de democracia por eles praticada.
Pois é, o coitado morreu por questionar e dar sua opinião (interessante como essa história se repete).
Mas, deixando a era “socrática” de lado, fica a pergunta: nos dias atuais, devemos ou não ser perguntadores?
A milenar sabedoria chinesa ensina: “quem pergunta é um ignorante por cinco minutos; quem não pergunta é um ignorante para sempre”.
No entanto, surge aquela questão: perguntar ofende? Todo mundo sabe que a máxima “perguntar não ofende” é uma expressão para avisar que você vai fazer uma pergunta indiscreta, desconcertante, incômoda ou coisa do gênero ou, como diriam os advogados: “é um habeas corpus preventivo”.
Às vezes, fazer perguntas ofende ou incomoda, sim!
Lembrei de um fato lá pelos meados dos anos de 1970, quando, na televisão existia um programa humorístico chamado “O Planeta dos Homens” (O programa explorava o sucesso do filme “O planeta dos Macacos”, ridicularizando a vida pouco sábia dos humanos). Em um quadro do programa, um macaco faz uma pergunta inocente para um humano. Este se enrola todo e não consegue responder. O macaco, então, apontando para a sua própria cabeça, dá a sentença (um bordão que ficou famoso): “não precisa explicar. Eu só queria entender”.
Eu, particularmente, apesar da minha timidez, sempre fui um perguntador contumaz. Ao longo da minha vida de perguntas, tem uma ocorrência que gosto de contar pela repercussão causada na época: certa vez, ainda na escola primária, deixei a professora “em papos de aranha”, quando lhe perguntei por que a escola tinha o inusitado nome de “perneta” (Escola de Primeiro Grau Emiliano Perneta). Estranhamente, ela não soube responder. Não contente, após a aula, fui até a sala do diretor da escola e fiz a mesma pergunta. Foi então que fiquei sabendo que a escola tinha esse nome em homenagem a uma pessoa famosa que foi poeta, escritor, jornalista, político e abolicionista paranaense e que, apesar do nome, ele não era um perneta — no sentido literal da palavra —, mas o pai dele, sim! (de onde ele herdou o estranho sobrenome).
Esses dois episódios ilustram bem como, às vezes, uma pergunta pode ofender ou simplesmente incomodar.
No entanto, apesar de tudo, a questão principal continua no ar: devemos ou não ser perguntadores?
O tema pode parecer banal, mas não é!
Grandes pensadores da atualidade são unânimes em afirmar que perguntar é uma importante ferramenta a ser usada, principalmente nas organizações, seja ela de que tipo for, pois incentivam o aprendizado, estimulam a inovação, melhora a confiança e a afinidade entre os membros da equipe, além de outras vantagens.
Mas, o grande problema é que poucas pessoas têm o hábito de fazer perguntas. Para essa minoria, fazer perguntas é fácil e sempre tem uma “na ponta da língua”. Para a grande maioria, no entanto, não é bem assim: estes são do tipo “moita” ou “come-quieto”, que acha que quanto menos falar, menos chances tem de dizer besteiras, chegando a acreditar que perguntar é um delito inafiançável. Para estes, muitas vezes, fazer perguntas é mais difícil do que respondê-las.
Segundo estudos, o brasileiro, por exemplo, é muito expansivo, falador e perguntador em festas e reuniões sociais, mas muito recatado quando a reunião é profissional ou oficial. Talvez o pavor que a nossa sociedade tem de perguntar em reuniões profissionais esteja ligado a dificuldades de dizer “não sei”: tem-se o medo de parecer inculto, incompetente, desatualizado ou coisa do gênero, ao contrário de outras sociedades onde o não saber é compreendido com naturalidade.
Apesar de tudo, não podemos esquecer que a arte de perguntar pressupõe, em primeiro lugar, uma conexão consigo mesmo e questionar é também saber. Mário Quintana ensinou: “a resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas”. A boa notícia é que isso tudo é como andar de bicicleta: aprende-se fazendo. E quanto mais se faz, melhor fica.
Portanto, na próxima reunião da qual participar, seja como Sócrates e questione sempre que for necessário.
Que a paz esteja com todos.
Darci Men.





