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Quando falamos de maus tratos de animais, logo nos vêm à mente cenas de abandono, torturas, crueldades. E, normalmente, enxergamos isso como uma coisa distante, praticada por pessoas que não fazem parte do nosso convívio. Na realidade, muitas vezes os ditos “amantes da natureza e dos animais” estão cometendo, incentivando ou sendo coniventes com práticas que submetem os animais a diversos tipos de exploração, sem se dar conta de que, direta ou indiretamente, também são responsáveis pelo sofrimento imposto ao animal.
Uma destas práticas, que se alastrou pelo país, é o rodeio, também conhecido como “Festa do Peão”. A pergunta é: festa para quem? Que pessoa com um mínimo de bom senso consegue se divertir às custas de animais torturados? Sim, por que o que ocorre nos bastidores de tais “espetáculos” não passa de uma sessão de maus tratos, com o objetivo de transformar animais outrora mansos em criaturas assustadas, desesperadas, pulando e corcoveando numa arena, enquanto uma multidão ensandecida vai ao delírio…
Para conseguir tal façanha, os artifícios utilizados são diversos: o sedém, por exemplo, consiste em uma cinta de couro amarrada na virilha do animal, comprimindo seus órgãos, o que provoca dor, feridas, além do sofrimento psicológico. As esporas, acopladas nas botas dos peões, são utilizadas com o intuito de golpear e irritar o animal, deixando lesões no couro e até nos olhos. As peiteiras (cordas ou faixas amarradas fortemente ao redor do corpo do animal) possuem sinos pendurados, cujo som incessante causa sensação de pânico. Costuma-se deixar o animal sem comer por alguns dias, para que ele fique debilitado, além dos choques elétricos aplicados ainda no brete, pouco antes da entrada na arena.
É difícil aceitar que uma sociedade dita civilizada como a nossa ainda permita que esse tipo de “espetáculo” aconteça, e, pior, ainda seja capaz de rir, se divertir e pagar para assistir homens montados em cima de um animal faminto, ferido, torturado e visivelmente irritado, e ainda achar que isso é esporte! Acredito que a prática esportiva ocorre quando o homem desafia os limites do seu corpo, do seu raciocínio e não quando o desafio é um ser em condições claras de desvantagem. Quanto aos nossos “cowboys”, fica a certeza de sua incompetência física e moral, pois é fácil dominar um animal nessas condições, difícil é dominar a profunda ignorância que reina nesses “heróis”. E eles ainda tiram o chapéu e rezam para Nossa Senhora Aparecida, intitulada protetora dos peões. Será que alguém perguntou se ela aceita abençoar esses covardes? Com certeza não…
Muitos frequentam rodeios para assistir aos shows de música, beber, paquerar, enfim, se divertir. Será que temos o direito de nos divertir dispondo da vida de outros seres dessa maneira? Cabe a consciência de cada um decidir se vale a pena fechar os olhos e incentivar uma prática arcaica e cruel, que nem faz parte da cultura do nosso país.
Maltratos nos rodeios:
Vídeo da ONG:
Projeto Esperança Animal.
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Autora convidada – Patricia Sanchez Peres , bióloga, vegetariana (mas não se considera melhor do que ninguém por isso), trabalha com fiscalização e educação ambiental.