A Última Confissão de Little Fox

(Um conto de horror cósmico)

O vento uivava entre os pinheiros quando Little Fox encontrou a carta.

Ela estava pendurada em um galho baixo, amarrada por um fio de crina negra, como se alguém (ou algo) soubesse que ele passaria por ali. O envelope era de um pergaminho grosseiro, e no lacre, a marca inconfundível de uma pata de raposa — não uma impressão, mas algo orgânico, como se a própria cera tivesse sangrado aquela forma.

Little Fox hesitou. Ele era apenas um mensageiro, um correio solitário que atravessava a floresta com cartas de amor, ordens de mercadores e notícias de mortes distantes. Ninguém lhe escrevia.

Mas aquela pata…

Era idêntica à cicatriz que ele carregava no peito desde a infância.

A Primeira Revelação

Dentro, apenas uma linha:

“Confesso que menti sobre o que você é.”

Nenhuma assinatura. Nenhum cheiro de tinta. Apenas palavras que pareciam ter sido arranhadas no papel, como se escritas por garras.

Little Fox riu, nervoso. Uma brincadeira de caçadores, talvez. Mas então, o vento parou.

E os pássaros também.

A floresta inteira segurou a respiração.

Foi quando ele percebeu: o envelope não estava mais em suas mãos.

Estava grudado nelas.

O pergaminho se fundia à sua pele, e a marca da pata — agora pulsante, viva — queimava como gelo.

O Segundo Aviso

Naquela noite, na estalagem onde costumava dormir, Little Fox acordou com o som de algo se arrastando sob sua cama.

Não era um animal.

Era o envelope.

Maior agora, inchado, como se tivesse engolido algo volumoso.

Desta vez, a mensagem era mais longa:

“Confesso que você não foi encontrado na floresta. Você foi devolvido. Eles o criaram em forma de homem porque a carne de raposa não aguentaria a Verdade. Mas você está pronto agora. Venha para o claro da Lua. Traga sua pele.”

Little Fox olhou para o próprio corpo — e pela primeira vez, viu as costuras.

Linhas finas, quase imperceptíveis, percorrendo seus braços, seu pescoço, seu rosto. Como se ele fosse um casaco feito de pele humana.

E em algum lugar, lá longe, algo ronronou de satisfação.

A Entidade no Círculo de Pedras

Ele não lembrava de ter caminhado até lá, mas de repente, estava no meio da clareira.

A Lua era grande demais, vermelha demais.

E no centro, erguia-se uma figura envolta em trapos negros — ou seria pelo?

“Você recebeu minhas confissões,” sussurrou a voz, que vinha de todos os lados ao mesmo tempo. “Agora ouça a última: você não é o mensageiro. Você é o recado.”

A criatura se desdobrou.

Era uma raposa.

Não uma raposa de verdade, mas algo que imitava uma raposa, com membros longos demais, um focinho cheio de dentes pequenos e afiados, e olhos que eram apenas buracos para um céu noturno sem estrelas.

Little Fox caiu de joelhos. Sua pele começou a se desfazer, revelando o que havia por baixo:

Pelo vermelho.

Garras.

E um único olho, enorme e pálido, abrindo em seu peito.

O Despertar

Na manhã seguinte, os aldeões encontraram as roupas de Little Fox espalhadas no círculo de pedras.

E uma carta.

Desta vez, o envelope estava aberto.

Dentro, apenas uma frase, escrita em um idioma que ninguém reconheceu — mas que todos, por algum motivo, entenderam:

“Confesso que vocês todos são meus.”

E na terra ao redor, centenas de pegadas de raposa.

Algumas ainda frescas.

Outras… fossilizadas.

Como se sempre tivessem estado ali.

Fim.

(Ou será apenas o começo?)

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