O Iluminado

por Henrique Oliveira do blog Incomode-se (autor convidado)

Quando falamos em filmes de terror modernos, logo nos vêm à cabeça cenas repletas daquelas imagens assustadoras e repetitivas provenientes de um aglomerado de monstros, fantasmas e psicopatas colocados a granel nos esquemas hollywoodianos – verdadeiros chavões da linguagem tradicional do cinema.

Poucas vezes um filme que se pretendeu assustador fugiu da velha fórmula da mocinha que corre desesperadamente e da “assombração” que vagarosa e inevitavelmente se aproxima. É sempre assim: a assombração superpoderosa massacra, ensaguenta, mata. Para depois, surpreendentemente, se acalmar ou ser derrotada.

Alguns até tentam misturar um pouco de suspense hitchcockiano nesse enredo, mas, na maioria das vezes, o resultado é uma pasteurização de chavões e lugares comuns sem tamanho. Vira tudo uma grande comédia pastelão sem propósito. E isso, com certeza, frustra a plateia.

Mas, nesse mar de horrores nem tudo é previsível: um filme da década de 1980 é a prova de que é possível se fazer cinema de terror sem apelar para monstros sanguinários e caricatos. A obra O Iluminado, do aclamado Stanley Kubrick (diretor de clássicos como “Laranja mecânica” e “Dr. Fantástico”), por exemplo, é verdadeiramente assustadora sem se deixar render aos chavões comerciais.

Adaptação do livro homônimo de Stephen King, O iluminado tem o grande mérito de nos entreter numa história macabra a partir da evolução psicológica dos seus personagens. Kubrick “retirou todos os monstros e tudo mais que tem no livro e manteve apenas o climão e as atitudes de Jack. Com isso, tudo ficou mais sugestivo, misterioso. Apenas alguns monstrinhos, no final do filme, servem de aperitivo aos fãs e para dizer, para nós, que estamos assistindo o filme, que existia algo muito mais macabro do que poderíamos imaginar.

Kubrick preferiu se concentrar na degradação dos personagens no sentido psicológico pelo ambiente, e não totalmente pela sobrenaturalidade. Esse ponto é importante, porque, para os personagens, Jack apenas enlouqueceu devido à solidão, mas, para nós, que estamos assistindo, sabemos melhor tudo o que está acontecendo”, afirma Rodrigo Cunha, crítico do site Cineplayers.

E é isso mesmo. O personagem Jack, interpretado magistralmente por Jack Nicholson, é o retrato de uma perturbação psicológica intensa. O processo de mudança dele (Jack) e de sua família para um hotel luxuoso e deserto, onde impera uma solidão cortante, vai causando uma degradação emocional intensa em todos. Os rumos e a harmonia da família vão, a partir dessa mudança, se misturando a uma série de acontecimentos estranhos e extremamente macabros.

O filme é recheado com cenas antológicas de suspense e, tecnicamente, é muito bem realizado. Para se ter uma ideia, é no “Iluminado” que o uso da Steady Cam (um equipamento que evita a trepidação da câmera em cenas filmadas a mão) vem se tornar, realmente, presente. É com esse recurso, por exemplo, que Kubrick realiza um dos travellings mais aterrorizantes que já assisti: quando o filho do protagonista Jack corre com um triciclo na solidão misteriosa do hotel e sob um clima inexplicavelmente hostil.

Resumindo, O iluminado é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes filmes de terror da história. Para quem gosta do gênero, vale a pena conferir e submergir no mar angustiante que é o retrato da degradação humana construído por Kubrick nessa sua inigualável obra…

Ficha técnica:

Título original: The Shining
Gênero: Terror
Duração: 02h24min
Ano de lançamento: 1980
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Diane Johnson e Stanley Kubrick, baseado em livro de Stephen King
Elenco: Jack Nicholson (Jack Torrance), Shelley Duvall (Winifred “Wendy” Torrance), Danny Lloyd (Danny Torrance), Scatman Crothers (Dick Hallorann), Barry Nelson (Stuart Ullman), Philip Stone (Delbert Grady), Joe Turkel (Lloyd), Anne Jackson (Doutora), Tony Burton (Larry Durkin), Barry Dennen (Bill Watson)

Fonte: www.adorocinema.com

Trailer:

httpv://www.youtube.com/watch?v=Zr0UtXRqtqc

———–

10 comentários em “O Iluminado”

  1. Esse é um dos filmes mais aterrorizantes que assisti. Tem a capacidade de prender o telespectador do início ao fim. Uma trama macabra com muito suspense e terror psicológico.

    Responder
  2. Assisti a versão com o Jack e me decepcionei.Falam que tem muito suspense e horror,eu achei muito fraco.Eu só assustei quando o Jack aparece com o machado e mata o cara.
    Tudo bem que o diretor quis trazer à tona a sensação de isolamento com cenas monótonas que por consequência trouxeram o desgastamento emocional dos personagens,mas o filme quase todo foi assim.Morri de tédio! Mas parece que a essência da história é boa,não li o livro,por isso eu não sei.Talvez eu veja qualquer hora a versão de 1990 como disseram.
    Mas é isso…muito fraco esse filme.

    Responder
  3. Na verdade eu não assisti a segunda versão, só este de Kubrick e li o livro. Gosto de Stephen King, mas é um autor irregular. Muitos de seus livros tem uma boa história, mas o final sempre é frustrante, ele parece não saber o que fazer com os personagens (uma exceção é Baú de Ossos, um dos melhores livros de terror da história, na minha opinião). Kubrick modificou muito a história original de O Iluminado (incluindo um final totalmente diferente) e, francamente, este é um dos casos onde o filme é melhor que o livro. Quem não leu, não recomendo, fique com o filme de Kubrick que é melhor!!

    Responder
  4. Oi pessoal

    Assisti “O Iluminado” com Jack, mas também a versão atual que é de 1990 e tem a direção de Mick Garris.
    Confesso que gostei mais da segunda, que parece também ser a preferida do
    próprio autor, Stephen King.
    A segunda versão é mais longa e dividida em duas partes (dois DVDs). Sugiro
    que vejam em dois dias.
    Dizem que Stephen King gostou mais da segunda, pois seria mais fiel ao seu livro.
    Não li o livro, mas a pesar disso, a segunda versão me pareceu mais completa
    e de certa forma nos faz entender toda a história, sem abrir mão das simbologias.

    Abraços

    Balaio Variado

    Responder
  5. Não assisto muito a filmes do gênero terror. Mas, com certeza, uma estória diferente e que foge daqueles padrões dos filmes do mesmo gênero, com certeza, empolgam mais o telespectador por ser diferente.

    Responder
    • Fabiola, sou como você e não gosto do gênero terror, mas este filme eu gostei. Claro que que o seu criador é um mestre e só podia sair coisa boa. Legal lembrar de coisa boa. Abraço a todos

      Responder
  6. Opa com certeza assistirei.. ainda mais sendo de um livro do mestre Stephen King..
    Realmente os filmes de terror vem sendo muitos repetitivos e por existirem ha anos vem perdendo a graça, ou melhor o medo.. rsrs
    Espero que mais filmes digamos “inovadores” apareçam 😉

    Responder

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.