Ventura – Los Hermanos, uma análise

Ventura
ven.tu.ra
sf (lat ventura, de venturu) 1 Fortuna boa ou má. 2 Sorte, acaso, destino. 3 Sorte feliz; felicidade. 4 Fortuna próspera. 5 Risco, perigo. Antôn (acepções 3 e 4): desventura. À ventura: ao acaso, à sorte, à toa. Por ventura: por acaso, talvez.

Do Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis

Ao ouvir pela primeira vez o CD Ventura da banda Los Hermanos no ano de 2003, tive uma grata surpresa, de, na casa de amigos, ouvir o disco, pegar o encarte, acompanhar a arte e os textos ali impressos, perceber que as letras eram diferentes, reflexivas, elas podiam me fazer chorar, mas algumas tinham sutilezas de uma alegria tão simples, tão ao alcance de qualquer um que fizesse o mínimo esforço para tentar entender as nuances das letras (principalmente as do Amarante tem um toque de humor familiar) que me fazem achar o disco muito foda!

Depois fiquei sabendo que uma versão não acabada do disco “vazou” pra internet meses antes do disco estar disponível nas lojas de todo o país e meio que lamentei pelos que não tiveram a experiência que eu tive, de ouvir o disco inteiro, finalizado, acompanhando as letras, sentindo e analisando os aspectos melódicos e líricos de cada canção…

Ventura é o terceiro álbum da banda carioca, lançado pela BMG que recentemente  entrou na lista dos 100 álbuns mais importantes da música brasileira, da revista Rolling Stone Brasil e, logo depois, em uma controversa votação popular, foi eleito como o Melhor Disco Brasileiro de TODOS OS TEMPOS.

Não acho que chegou a tanto, mas certamente figura entre os meus 10 preferidos.

Vou escrever alguns breves comentários sobre cada canção. É o meu ponto de vista, se você discorda ou concorda, sinta-se livre para deixar seu comentário.

Samba A Dois

“Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?
Quem se atreve a me dizer?”

Logo de cara é mostrado que o disco é diferente, com um sambinha que não é samb… Peraí, eu estou dizendo que não é, como me atrevo? Mesmo assim eu sambo,  e quem se atreve a me dizer do que é feito o que sou?

O Vencedor

“Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor”

A sociedade cobra tando da gente, os pais cobram, e eu acabo sendo diferente dessa massa que sofre. Preciso aprender que não preciso ser assim, posso chorar, não quero ser o melhor, apenas viver, apenas fazendo o que me deixa ser, tentando ser feliz de uma maneira bem protegida. Destaque para a guitarra e a hora em que entram os metais. O baixo logo em seguida toma conta, acompanhado de um vocal gritado, e um final onde tudo se une em uma grande euforia.

Tá Bom

“Me diz se assim está em paz
Achando que sofrer é amar demais”

Começo do tipo em que os instrumentos vão nos envolvendo, e uma bronca. São palavras que eu poderia dizer para algum amigo, ouvir de algum deles, e falar pra mim mesmo.
Em alguns momentos da vida me senti só assim. Niilismo demais na música? É possível, mas me identifico.

Último Romance

“Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar”

Uma das mais belas letras de canção de amor de casal de todos os tempos!

Sobre a música em si… Gosto particularmente dos metais e das palmas.

Do Sétimo Andar

“Deus sabe o que quis foi te proteger
Do perigo maior que é você”

Cuidar de uma pessoa com alguma desordem psicológica, alguém importante, que se ama… um misterioso chá curativo, um fotógrafo, um clima meio Noir…

 A Outra

“Não dá mais pra fingir
Que ainda não vi
As cicatrizes que ela fez”

Ela começa meio diferente, e aí parece uma música antiga, pra dançar abraçadinho com seu amor, mas a letra fala de um relacionamento meio atrapalhado, onde a traição rola fácil, mas com um consentimento que foi surdo da parte chifrada; meio trágica a música no fim!
O instrumental dessa música é fora de série.  Eu recomendo ouvir com fones,  fechar os olhos e se deixar levar.

Cara Estranho

“Tem tudo sempre às suas mãos, mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão a imagem de um rapaz de bem”

Parece uma música de terror.

Acho a letra meio o MÉDICO E O MONSTRO, HULK, essas coisas bipolares meio mutantes tentando se controlar e parecer mesmo humano.

O Velho E O Moço

“E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?”

O pensamento de você mais velho e de você mais novo andando por um corredor indo de encontro um ao outro, e um pouco da conversa de vocês dois.

Além Do Que Se Vê

“Sei que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos nós
Você supõe o céu”

Me parece um monólogo de um cara friendzoned pra uma amiga que o compositor acha que nunca vai pegar, um toque de história pessoal pra dar veracidade, instrumental foda, uma pegada meio alegre depois fúnebre e intensa! Música que vai crescendo, eu gosto.

O  Pouco Que Sobrou

“Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem”

Música que só vai sentir mesmo a pegada quem já penso em se matar. Musicalmente é outra que merece MESMO o uso de fones pra ouvir!

 Conversa De Botas Batidas

“Já não vejo motivos prum amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar…”

Música alegre na sua maneira de ser. Me lembra outro diálogo, talvez da banda com os fans? Mas cada um que curte a música se identifica um pouco.
Eu penso em algo ou alguém de que você gosta ou admira faz tempo e agora pode usufruir um pouco! É um reencontro bonito, chegou a hora da união, da nossa comunhão! É a hora do abraço, do sorriso, do reconhecimento de quem está ao seu lado, até o fim da canção.

Deixa O Verão

“E assim a gente não sai
Que esse sofá tá bom demais!
Deixa o verão pra mais tarde…”

Aqui parece que o relacionamento criado antes se desgastou, quem quer que seja o personagem do disco, quer ficar de boa, por enquanto, e ele acha ótimo que os outros continuem.
A música é a mais animadinha do disco.

Do Lado De Dentro

“- Cala esta boca que isso é coisa pouca perto do que passei
Eu que lavei os seus lençóis sujos de tantas outras paixões,
Que ignorei as outras muitas, muitas”

Tem um começo com uma guitarrinha,  baixo e batera bem bizarro, depois entra o vocal, outros instrumentos e a coisa vai ficando tensa. A letra, me parece falar de um ponto final de um relacionamento onde a mulher passou por momentos muito ruins em nome de algo que ela via como bom, mesmo com as traições e dificuldades, até que, por alguma razão que eu ignoro, ela “evoluiu”, aprendeu algo que a fez se libertar, um lance meio Jorge Amado, eu achei.

Já me disseram que poderia ser também a mãe falando pro filho vagabundo sair de casa, ou algo assim, mas eu não acredito nisso.

Gosto do jogo de palavras na parte em que ele diz “Eu sou seu homem vil” , enquanto canta parece ter uma vírgula e o “vil” parece mais um “viu”,  aliás, as letras do Camelo são cheias dessas firulas.

Um Par

“Sai domingo diz que é o dia de jogar
Mas que jogo eu não sei.
Fica até segunda o dia clarear
E troféu não se vê! “

 Essa eu achava a melodia gostosa de tocar no violão! A letra é uma surpresa, porque são poucas as músicas que falam das dificuldades da relação entre pai e filho, sob o ponto de vista do pai, de maneira tão honesta e simples. Muito boa!

De Onde Vem A Calma

Eu sempre me identifiquei com essa música, acho que pela época em que eu a ouvi ou por sempre me sentir solitário e triste, quase sempre tentando passar uma imagem mais forte, mas, no fundo, ser só alguém que quer a companhia dos seus e ao mesmo tempo conformado de simplesmente ser o que se é.

“Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Não vou ceder
Deus vai dar aval sim,
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado rei de mim.”

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Um baita disco! Não tem uma música que eu ache ruim. Para o meu gosto é ótimo e está sempre no meu Mp3, nas minhas lista do Grooveshark e Youtube.

Nota 9.7 de 10 

Veja aqui a Ficha Técnica do disco Ventura.

Abraço!

Links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Los_Hermanos

http://blogs.estadao.com.br/combate_rock/ventura-e-eleito-o-melhor-disco-brasileiro-de-todos-os-tempos/

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